Efeitos do fogo na vegetação florestal e implicações na interceptação das chuvas: Maciço da Tijuca, Rio de Janeiro (RJ)

Autores

  • Leonardo Esteves de Freitas Universidade Federal do Rio de Janeiro/Fiocruz
  • Ana Luiza Coelho Netto Universidade Federal do Rio de Janeiro

DOI:

https://doi.org/10.53660/CONJ-868-P59

Palavras-chave:

Incêndio florestal, Interceptação da água da chuva, Estrutura da vegetação

Resumo

A ocorrência de incêndios é responsável pela degradação florestal, modificando a estrutura da vegetação e a interceptação da água da chuva. Busca-se analisar os efeitos de incêndios recorrentes sobre áreas florestadas no Maciço da Tijuca, RJ. O fogo se tornou o principal fator na seleção de espécies. As alterações na parte aérea da vegetação influenciaram a interceptação da água das chuvas, que foi elevada em todos os ecossistemas, por conta do estudo ter sido realizado em período de pouca precipitação. As áreas colonizadas por alta densidade de capim tiveram a maior interceptação. Estes dados parecem refletir a incapacidade de medir a entrada de água no solo a partir das partes aéreas do capim. O corte no capim reduziu significativamente a interceptação, mostrando que a retirada da vegetação tende a aumentar a chegada de água no solo, favorecendo o escoamento superficial. O papel de espécies herbáceas em alta densidade aumentando a interceptação também foi observado em área queimada intensamente. Conclui-se que os incêndios estão levando à substituição das florestas por formações degradadas e afetando a entrada de água nos ecossistemas, o que tende a ampliar a suscetibilidade a movimentos de massa rasos.

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Biografia do Autor

Ana Luiza Coelho Netto, Universidade Federal do Rio de Janeiro

Bacharel em Geografia na Universidade Federal do Rio de Janeiro (1973); M.Sc. em Geografia Física/Geomorfologia na Universidade Federal do Rio de Janeiro (1979); Dr.Sc. em Geomorfologia/Geoecologia (Summa cum Lauda) na Universidade Católica de Leuven/Bélgica (1985); Pós-Doutorado em Geomorfologia na Universidade da Califórnia-Berkeley/EUA. Desenvolveu sua vida profissional na Universidade Federal do Rio de Janeiro onde atua como Professora Titular (desde 1998) no Departamento de Geografia do Instituto de Geociências. Fundou (em 1992) e coordena o GEOHECO/Laboratório de Geo-Hidroecologia e Gestão de Riscos, integrando conhecimentos em Geomorfologia, Hidrologia,Geoecologia e enfatizando sua aplicação no processo de Ordenamento e Gestão do Território. Trata-se da busca de um novo modelo de gestão participativa para redução de riscos de desastres relacionados com ameaças naturais e na perspectiva da ocorrência de multiplos riscos de natureza social e ecológica. Os principais tópicos de pesquisa incluem: a) processos de natureza geo-hidroecológica atuantes nas encostas e evolução da paisagem (Holoceno e Antropoceno), com atenção especial sobre os eventos extremos de chuvas e estiagens em regiões Tropicais; b) avaliação e zoneamento da suscetibilidade de terreno frente à hidro-erosão, movimentos gravitacionais de massa e inundação; c) avaliação, zoneamento e gestão de multiplos riscos, integrando conhecimentos científicos e populares. Entre os trabalhos mais relevantes, estão as duas conferências plenas apresentadas durante as IV e VIII Conferências Internacionais de Geomorfologia da IAG-Associação Internacional de Geomorfologia, respectivamente sob os títulos "Evolução Catastrófica da Paisagem no SE-Brasil: heranças de mudanças induzidas por tectônica, clima e uso da terra" (1997, Bolonha) e "Evolução Espacialmente Descontínua da Paisagem e Operacionalidade dos Processos em torno do Trópico de Capricórnio: o papel dos eventos extremos de chuvas" (2013, Paris). Outros trabalhos relevantes incluem: proposição da UGB-União Brasileira de Geomorfologia (instalada em 1996); estudo solicitado pela Secretaria do Meio Ambiente do Estado do Rio de Janeiro "Análise e Qualificação Socioambiental do Estado do Rio de Janeiro (escala 1: 100 000): subsídios ao ZEE/Zoneamento Ecológico-Econômico" (2009-2010) e participação/instalação da REGER-CD/Rede de Gestão de Riscos da Bacia do Córrego DAntas, em Nova Friburgo, articulando Universidades e Instituições de Pesquisa e Ensino, Comunidades em Risco e Governos (2014).

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Publicado

2022-05-24

Como Citar

Esteves de Freitas, L., & Coelho Netto, A. L. (2022). Efeitos do fogo na vegetação florestal e implicações na interceptação das chuvas: Maciço da Tijuca, Rio de Janeiro (RJ). Conjecturas, 22(5), 793–814. https://doi.org/10.53660/CONJ-868-P59

Edição

Seção

Artigos